quarta-feira, 17 de outubro de 2012



CANCLINI, Nestor Garcia. O Patrimônio Cultural e a Construção Imaginária do Nacional. P. 96-98

Pode-se pensar por um viés que o patrimônio histórico por si só transparece uma visão um tanto harmônica em meio a sociedade, desmistificando de classes e etnias aqueles apreciadores que compartilham destes bens patrimoniais, e até mesmo o valor histórico contido nestes estagnam qualquer fração social. Mas, no conceito   de patrimônio sobre os princípios da teoria da reprodução da cultura, os processos culturais efetuam a manutenção das estruturas económicas e sociais existentes. A cultura transmitida na escola é a cultura da classe dominante que passa a impor-se como a cultura por excelência. Portanto os bens pertencentes a uma unidade não pertence a todos, conforme decrescentes na escala social e educacional as chances de apropriar-se do capital cultural transpassado por museus, escolas e organizações educacionais, diminui, pois cada grupo, em uma análise antropológica e social se apropria da herança cultural de forma desigual.
A incorporação generalizada dos aspectos culturais acaba em uma estreiteza, a qual é priorizada a cultura que se encaixa melhor como um produto, um capital cultural que prioriza a arte e não incorpore o artesanato, mas quando esses aspectos são introduzidos em meio a um capital cultural, é tido como secundário ‘’capital cultural dos grupos subalternos’’. Contudo, o patrimônio tem seus componentes comparados ao mesmo capital, como o de Marx, o qual produz, gera lucros, produz mais, e é distribuído desigualmente aos outros setores, comparemos então com o capital cultural investido na sociedade como um todo, mas distribuído em partes com pesos variáveis, portanto o patrimônio não tem um sentido fixo e menos ainda neutro. Diferentemente das sociedades arcaicas, as quais o capital cultural comum era compartilhado igualmente, tanto como a sua crença e conhecimentos, por conseguinte essa heterogeneidade experimental foi substituída pelas hegemonizadas divisões do trabalho, para apropriação privilegiada do patrimônio.
O patrimônio mostra-se como um meio para reproduzir diferenças, frisando que por excelência a classe dominante tem um acesso preferencial a distribuição e produção dos bens, além do capital, possui um saber histórico acumulado, como formados arquitetos, esvaindo-se em recursos e possibilidades, o que decaem por chão a produção de uma classe menos favorecida, que utiliza dos meios que pode usufruir, não se restringindo de criatividade, prendendo-se mais a uma história local e adequando-se as necessidades presentes no determinado período de tempo. O produto fabricado pela população resulta em memória curta, a própria história dentro de um contexto social e também antropológico necessita considerar e reconhecer o lugar dessa cultura urbana dentro do patrimônio nacional.





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