CANCLINI,
Nestor Garcia. O Patrimônio Cultural e a
Construção Imaginária do Nacional. P. 96-98
Pode-se
pensar por um viés que o patrimônio histórico por si só transparece uma visão
um tanto harmônica em meio a sociedade, desmistificando de classes e etnias
aqueles apreciadores que compartilham destes bens patrimoniais, e até mesmo o valor
histórico contido nestes estagnam qualquer fração social. Mas, no conceito de patrimônio sobre os princípios da teoria
da reprodução da cultura, os processos culturais efetuam a manutenção das
estruturas económicas e sociais existentes. A cultura transmitida na escola é a
cultura da classe dominante que passa a impor-se como a cultura por excelência.
Portanto os bens pertencentes a uma unidade não pertence a todos, conforme
decrescentes na escala social e educacional as chances de apropriar-se do
capital cultural transpassado por museus, escolas e organizações educacionais,
diminui, pois cada grupo, em uma análise antropológica e social se apropria da
herança cultural de forma desigual.
A
incorporação generalizada dos aspectos culturais acaba em uma estreiteza, a
qual é priorizada a cultura que se encaixa melhor como um produto, um capital
cultural que prioriza a arte e não incorpore o artesanato, mas quando esses
aspectos são introduzidos em meio a um capital cultural, é tido como secundário
‘’capital cultural dos grupos subalternos’’. Contudo, o patrimônio tem seus
componentes comparados ao mesmo capital, como o de Marx, o qual produz, gera
lucros, produz mais, e é distribuído desigualmente aos outros setores,
comparemos então com o capital cultural investido na sociedade como um todo,
mas distribuído em partes com pesos variáveis, portanto o patrimônio não tem um
sentido fixo e menos ainda neutro. Diferentemente das sociedades arcaicas, as
quais o capital cultural comum era compartilhado igualmente, tanto como a sua
crença e conhecimentos, por conseguinte essa heterogeneidade experimental foi
substituída pelas hegemonizadas divisões do trabalho, para apropriação
privilegiada do patrimônio.
O
patrimônio mostra-se como um meio para reproduzir diferenças, frisando que por
excelência a classe dominante tem um acesso preferencial a distribuição e
produção dos bens, além do capital, possui um saber histórico acumulado, como
formados arquitetos, esvaindo-se em recursos e possibilidades, o que decaem por
chão a produção de uma classe menos favorecida, que utiliza dos meios que pode
usufruir, não se restringindo de criatividade, prendendo-se mais a uma história
local e adequando-se as necessidades presentes no determinado período de tempo.
O produto fabricado pela população resulta em memória curta, a própria história
dentro de um contexto social e também antropológico necessita considerar e reconhecer
o lugar dessa cultura urbana dentro do patrimônio nacional.
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